segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Carta publicada em 1895 no jornal Estado de São Paulo

                                     ANTES TARDE DO QUE NUNCA

O abaixo-assignado, residente a muitos annos no município de Fartura, raras vezes apareçe na villa; pois tendo todo  o seu tempo empregado na lavoura, com a qual procura manter seu nome honrado, legando-o ileso aos seus filhos ,são muito  pouco as vezes que ali aparece razão pela qual escapa-lhe ao conhecimento artigos publicados em jornaes da capital, nos quaes cobardes anonymos procuram atassalhar-lhe a honra, atribuindo-lhe crimes e levantando inúmeras falsidades.
Entretanto, para aquelles que me conhecem pessoalmente não seria necessário resposta alguma a essas miseráveis allegações, que de um homem honesto só merecem o mais aluvo dos desprezos; mas, para os que me conhecem somente pelo nome, tornar-se necessário respondes a esses cobardes  que para mentirem com mais facilidade cobrem-se com  a mascara do anonymato .
A guerra a mim movida por esses cobardes, tem unicamente como causas a minha dedicação desinteressada ao actual governo, com o qual tinha colaborado, oferecendo o meu fraco auxilio, desde que o honrado cidadão Dr Cerqueira Cesar ,quando no governo ,convenceu-se que a facção dirigida por Luiz Ribeiro, Carlos Ribeiro, Geronymo de Andrade, e o pardo Maximiano, não podia merecer confiança de um governo sério.
Muito cioso pelo progresso deste município e pelo merecido desenvolvimento que se lhe deve imprimir, cogitei desde então de reunir a parte sã dos seus habitantes, desprezando o grupo dos políticos de balcões de vendas, donde ao som de violas, com os sentidos perturbados pelo efeito do álcool e no meio do barulho das cartas no jogo da vermelhinha, discute-se a politica local impregnando-se-a de ódio e rancores.
Desde logo manifestou-se o despeito desses e fui  então o alvo destes ataques, nos quaes  não se respeitou sequer o meu lar  domestico, que um dia foi atacado por um grupo de facínoras, que feriram a mim e a todas as pessoas de minha  família, saqueando em seguida a minha casa. Desse conflito, no qual ficou envolvido a força publica que procurou defender-me, resultou a morte do distincto moço Zé d´avó, o qual foi victima de tiro partido do lado dos agressores. Prosseguiram meus ferozes inimigos em perseguição contra mim, não trepidando mesmo mandarem me matar na estrada mas há um Deus que protege aos justos e ate hoje esses miseráveis não conseguiram seus fins .
Demais, elles que são tão fáceis em, com a mascara no anonymato, atribuir-me tantos crimes, porque ate hoje não me levaram aos tribunais ?
Entretanto, é certo que intrépidos em cercarem as autoridades, que para aqui vêm, de bajulações, de intrigas, fazendo-lhes mimos e dando-lhes, mesmo dinheiro, muitas vezes tem della disposto como bem lhe parece; é senão que o diga o alferes Lapa, que não contente de se gabar com as facilidades, que obteve para ser conduzido até aqui por esses indivíduos, pretende ainda voltar, esperando que seus amigos paguem-lhe um novo fardamento; bem assim o tenente Azevedo, que não só os protegia, como ainda não poucas vezes provocar-me no intuito de me prejudicar. Além disso, é pura verdade (publico e notório) que o Dr Luiz de Aguiar Souza, juiz de direito desta comarca e o Dr promotor publico estão intimamente ligados a facção oppsicionista deste município, e sendo como são ,podem constituir fácil instrumento  para a realização dos desejos desses miseráveis anonymos .
Experimentem, e terão a oportunidade de ver como um homem de bem sabe e pode defender-se.
Atribuem-me a morte do facínora Benedito Pinto, porque não processam-me ? Pois então me seria dada a ocasião de provar que esse facínora veio para essa villa por encomenda desses anonymos para matar-me, e foi morto por uma escolta na ocasião em que resistiu a uma ordem de prisão a ele dada em virtude de uma precatória, que requisitou essa prisão por ser elle auctor de diversas mortes. Eu bem podia pedir a esses miseráveis anonymos noticias dos assassinatos do meu creado Faustino e do inditoso moço José de Moraes; porem, para que si elles são tão fáceis de mentir que serão também capazes de me atribuir.
Quanto a minha dedicação á republica e ao actual governo, confesso que é insignificante como a minha pessoa, mas leal, desinteressada, e enérgica. Está na consciência de todos deste município, que desde que o governo depositou-me alguma confiança tenho lhe dedicado todo o meu tempo, conseguindo congregar nos pleitos eleitorais grande números de eleitores, embora que para isso tenha lutado  contra toda a  sorte de embustes e intrigas dos meus adversários. Além disso durante o tempo da infeliz e inditosa revolta, desde 26 de dezembro do anno passado até 24 de maio deste anno, estive sempre á frente de forças legaes, procurando por todos os meios obstar pelo lado deste município a invasão das forças federalistas, secundando assim os esforços que o governo  honrado do Sr Bernardino de Campos lançava mão  para a honra dos paulistas e salvação da republica .
Nesses dias angustiosos para nós todos que estimamos a nossa Pátria, o nosso estado e as nossas famílias. os meus inimigos (os 3 anonymos ) aguardavam com ansiedade a realização da invasão para então saciarem com sangue a sede de vingança de que achavam possuídos !
Quantas e quantas vezes esses infelizes saboreando uma próxima victória enfeitavam  seus cavalos e em grupos percorriam as ruas desta villa dando morras ao governo e vivas a oposição, trazendo a perturbação e o pânico no meio das famílias com tiros com que acompanhavam as suas injustas manifestações !
Pois bem, esses miseráveis anonymos nessa occasião conheceram a generosidade do meu caráter, pois o estado de sitio dava-me opportunidade, quando mais não fosse de castiga-los; entretanto, em vez disso, offereci-lhes  agasalho e lhes garanti vida e liberdade.
Em conclusão os meus dectratores  já são bastantes conhecidos do governo e pela sociedade honesta do meu estado, só voltarei a imprensa depois que esses miseráveis tiverem tirado a mascara do anonymato – o que duvido.
FARTURA 14 DE JULHO DE 1895
VICENTE DE OLIVEIRA TRINDADE E MELLO





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